
No Domingo passado Kuanjie ia receber uma visita importante, George W. Bush estaria presente para cumprir as suas obrigações dominicais. O presidente americano já tinha embaraçado os seus hóspedes chineses ao falar abertamente, numa conferência de imprensa, sobre a liberdade religiosa. A última coisa que a polícia e o partido queriam era um incidente na própria igreja.
Foi por isso que colocaram agentes à porta de casa dos irmãos Hua, mas mesmo assim Huiqi, pastor numa igreja protestante clandestina, e detido por diversas vezes pelas suas actividades, e Huilin conseguiram sair e partiram de bicicleta em direcção a Kuanjie.
Foi já perto do local de culto que dois carros com polícias à paisana os interceptaram. Arrancaram os irmãos das bicicletas, colocaram-nos em carros diferentes e partiram. Huilin foi solto passadas algumas horas, mas Huiqi foi levado para a esquadra e sovado. A polícia avisou-o que, caso voltasse a tentar frequentar Kuanjie, partiam-lhe as duas pernas.
O que se passou a seguir faz lembrar a fuga milagrosa de S. Pedro da prisão, narradas no capítulo 12 dos Actos dos Apóstolos, com Huiqi a aproveitar o facto de os seus guardas terem adormecido para sair calmamente da prisão e esconder-se em parte incerta.
Agora, Huiqi teme pela sua segurança. Avisou os escritórios de Hong Kong da Human Rights China, um organismo que monitoriza os direitos humanos naquele país, da sua condição, e estes fizeram questão de espalhar a notícia pelo mundo. Hoje, a história de Huiqi figura no New York Times, um dos jornais mais importantes e mais lidos em todo o mundo.
A história de Huiqi é a última numa série de incidentes embaraçosos para Pequim, e que realçam as contradições entre a actuação e o discurso das autoridades. Ainda a semana passada o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, garantia que os chineses gozam de total liberdade religiosa.
Depois do fiasco que foi a passagem da tocha olímpica por várias cidades mundiais, com diversos protestos, essencialmente sobre a causa tibetana, a China tem assistido a protestos mesmo em Pequim. A semana passada quatro activistas pró-tibetanos conseguiram desenrolar faixas com palavras de ordem contra a ocupação tibetana enquanto um outro grupo, na Praça de Tiananmen, protestava contra as políticas abortistas do Governo.
A estes incidentes vêm-se juntar alguns factos sobre a própria cerimónia de abertura, que foi muito elogiada em todo o mundo. Após os organizadores terem confessado que algumas das imagens transmitidas na televisão terem sido manipuladas, nomeadamente as que mostram fogo-de-artifício visto do ar, por toda a cidade, soube-se ontem que a pequena criança que cantou, e encantou o mundo, estava a actuar em playback.
A verdadeira voz por detrás da cara bonita de Lin Miaoke, de nove anos, pertence a Yang Peiyi, com sete. Yang venceu um difícil e longo concurso, acabando por ser escolhida pela sua voz perfeita para cantar a música “Hino à pátria” na cerimónia de abertura. Contudo, durante um dos últimos ensaios o elemento do Politburo do Partido Comunista Chinês, presente na assistência, vetou a sua actuação.
A voz podia ser perfeita, mas a cara não. O crime de Yang está nos seus dois dentes da frente, distantes da simetria e beleza dos de Lin, que já era conhecida dos chineses por participar em anúncios de televisão.
Com várias semanas de jogos ainda pela frente, resta saber que surpresas, e situações embaraçosas, ainda esperam os organizadores das olimpíadas.
Renascença
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