quinta-feira, 14 de agosto de 2008



A fuga da prisão de Hua Huiqi é a mais recente de uma série de situações difíceis com que o Governo Chinês tem tido que lidar desde começaram os Jogos Olímpicos.
Hua Huiqi foi avisado várias vezes pelas autoridades chinesas para se manter bem longe da igreja protestante de Kuanjie, uma das poucas igrejas que o Governo reconhece e autoriza a funcionar.
No Domingo passado Kuanjie ia receber uma visita importante, George W. Bush estaria presente para cumprir as suas obrigações dominicais. O presidente americano já tinha embaraçado os seus hóspedes chineses ao falar abertamente, numa conferência de imprensa, sobre a liberdade religiosa. A última coisa que a polícia e o partido queriam era um incidente na própria igreja.
Foi por isso que colocaram agentes à porta de casa dos irmãos Hua, mas mesmo assim Huiqi, pastor numa igreja protestante clandestina, e detido por diversas vezes pelas suas actividades, e Huilin conseguiram sair e partiram de bicicleta em direcção a Kuanjie.
Foi já perto do local de culto que dois carros com polícias à paisana os interceptaram. Arrancaram os irmãos das bicicletas, colocaram-nos em carros diferentes e partiram. Huilin foi solto passadas algumas horas, mas Huiqi foi levado para a esquadra e sovado. A polícia avisou-o que, caso voltasse a tentar frequentar Kuanjie, partiam-lhe as duas pernas.
O que se passou a seguir faz lembrar a fuga milagrosa de S. Pedro da prisão, narradas no capítulo 12 dos Actos dos Apóstolos, com Huiqi a aproveitar o facto de os seus guardas terem adormecido para sair calmamente da prisão e esconder-se em parte incerta.
Agora, Huiqi teme pela sua segurança. Avisou os escritórios de Hong Kong da Human Rights China, um organismo que monitoriza os direitos humanos naquele país, da sua condição, e estes fizeram questão de espalhar a notícia pelo mundo. Hoje, a história de Huiqi figura no New York Times, um dos jornais mais importantes e mais lidos em todo o mundo.
A história de Huiqi é a última numa série de incidentes embaraçosos para Pequim, e que realçam as contradições entre a actuação e o discurso das autoridades. Ainda a semana passada o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang, garantia que os chineses gozam de total liberdade religiosa.
Depois do fiasco que foi a passagem da tocha olímpica por várias cidades mundiais, com diversos protestos, essencialmente sobre a causa tibetana, a China tem assistido a protestos mesmo em Pequim. A semana passada quatro activistas pró-tibetanos conseguiram desenrolar faixas com palavras de ordem contra a ocupação tibetana enquanto um outro grupo, na Praça de Tiananmen, protestava contra as políticas abortistas do Governo.
A estes incidentes vêm-se juntar alguns factos sobre a própria cerimónia de abertura, que foi muito elogiada em todo o mundo. Após os organizadores terem confessado que algumas das imagens transmitidas na televisão terem sido manipuladas, nomeadamente as que mostram fogo-de-artifício visto do ar, por toda a cidade, soube-se ontem que a pequena criança que cantou, e encantou o mundo, estava a actuar em playback.
A verdadeira voz por detrás da cara bonita de Lin Miaoke, de nove anos, pertence a Yang Peiyi, com sete. Yang venceu um difícil e longo concurso, acabando por ser escolhida pela sua voz perfeita para cantar a música “Hino à pátria” na cerimónia de abertura. Contudo, durante um dos últimos ensaios o elemento do Politburo do Partido Comunista Chinês, presente na assistência, vetou a sua actuação.
A voz podia ser perfeita, mas a cara não. O crime de Yang está nos seus dois dentes da frente, distantes da simetria e beleza dos de Lin, que já era conhecida dos chineses por participar em anúncios de televisão.
Com várias semanas de jogos ainda pela frente, resta saber que surpresas, e situações embaraçosas, ainda esperam os organizadores das olimpíadas.


Renascença

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